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No primeiro semestre de 2025, uma investigação chocou até mesmo um grupo de experientes investigadores alemães.
Ao investigar uma das maiores redes internacionais de pedofilia, eles se depararam com o caso de um homem de 36 anos que, além de consumidor de pornografia infantil, oferecia o próprio filho pequeno para que outros pedófilos “brincassem”, o modo como se descrevem os abusos.
O horror do caso fez a equipe ter uma noção da gravidade dos crimes que investigavam.
O homem foi identificado no KidFlix, streaming de pedofilia que teve mais de 1,8 milhões de acessos desde sua criação, em 2021, até ser desmantelado em março de 2025. A plataforma se tornou um dos maiores centros de material contendo abuso sexual infantil do planeta.
O streaming teve seu funcionamento suspenso em março de 2025, após uma cooperação de forças policiais de mais de 35 países, denominada Operação Stream.
A força-tarefa era liderada pela Polícia Criminal Estadual da Baviera (Bayerisches Landeskriminalamt), na Alemanha, com o apoio da Europol e de polícias de países como Reino Unido, Estados Unidos, Brasil e Portugal.
Após descobrir o esquema, as autoridades colocaram 39 crianças, vítimas de abuso, sob proteção.
A Kidflix enganava com um nome parecido com o da gigante Netflix, mas não era apenas um repositório de vídeos: ela permitia downloads e transmissão ao vivo de vídeos em que crianças e adolescentes eram abusados.
E os números da plataforma eram expressivos:
1,8 milhão de usuários acessaram a plataforma, entre abril de 2022 e março de 2025;
91 mil vídeos exclusivos em que crianças e adolescentes sofriam estupros e abusos sexuais;
3,5 novos vídeos eram enviados por hora na plataforma;
6.288 horas de material de abuso;
1,4 mil criminosos em 39 países, envolvidos na difusão e consumo deste conteúdo criminoso.
Como funcionava o esquema?
A plataforma operava com um sistema sofisticado e cruel.
Usuários pagavam com criptomoedas, que eram convertidas em tokens para desbloquear vídeos em diferentes qualidades, de baixa a alta resolução.
O mais chocante: criminosos ganhavam tokens ao enviar novos conteúdos, verificar títulos ou categorizar os arquivos, criando um ciclo de incentivo à prática de crimes de produção de abusos sexuais de menores.
“Era um mercado onde o sofrimento de crianças virava moeda de troca”, descreveu um investigador da Europol.
No momento da apreensão, o servidor principal do KidFix tinha 72 mil vídeos armazenados.
A investigação, iniciada em 2022, culminou em duas semanas intensas de ações, entre 10 e 23 de março, revelando a extensão do problema.
Os números da Operação Stream impressionam:
1.393 suspeitos foram identificados globalmente,
79 foram presos por distribuir ou produzir CSAM,
+ de 3 mil dispositivos eletrônicos foram confiscados, entre os quais computadores e celulares, foram confiscados.
Entre os detidos, havia não apenas consumidores do material, mas também abusadores de direitos de crianças.
O esforço conjunto salvou 39 vítimas de situações de violência. Catarina De Bolle, diretora executiva da Europol enfatizou que esses crimes não são apenas cibernéticos.
“Há crianças reais sofrendo, e como sociedade precisamos protegê-las”.
Uma ameaça crescente
A exploração sexual infantil online é uma das maiores ameaças aos Direitos Humanos identificadas em todo o mundo. Segundo destacado pelo EU-SOCTA, o relatório que avalia a ameaça grave da criminalidade organizada, publicado pela Europol, em 2025 a exploração infantil na internet foi apontada como uma prioridade urgente, refletindo o aumento alarmante desse tipo de crime.
A Kidfix é um exemplo extremo das portas que a internet abriu para que criminosos tenham acesso às crianças.
Ao se tornar um ponto de encontro entre criminosos, a plataforma rendeu dezenas de milhões.
Apesar do anonimato prometido pela dark web, a maioria dos suspeitos identificados já estava nos registros da Europol, provando que muitos são reincidentes.
“O que acontece online não desaparece. Deixa rastros, e nós os seguimos”, afirmou um porta-voz da agência.
O papel do Brasil e como denunciar
No Brasil, a Polícia Federal, a Polícia Civil e a Polícia Militar integraram a operação e reforçaram a luta contra esses crimes.
Canais como o Disque 100 (direitos humanos), Disque 180 (violência contra a mulher), Disque 190 (emergências) e Disque 197 (investigações) são ferramentas essenciais para denúncias.
“Qualquer suspeita deve ser reportada. O silêncio só protege os criminosos”, alerta um oficial da PF.
A batalha continua
A Operação Stream, foi uam importante batalha vencida contra a pedofilia.
Ainda assim, especialistas alertam que a ameaça não acabou. A tecnologia avança, e com ela os métodos dos infratores. Para cada Kidflix derrubada, outras podem surgir. A resposta, dizem as autoridades, está na vigilância constante, na cooperação global e na coragem de denunciar.
Por trás dos números, há vidas em jogo – e elas merecem ser protegidas.